quarta-feira, julho 26, 2006

Fronteiras

É bastante complexa, a tarefa de enxergar a verdade, ouvir o som cristalino da certeza através da fumaça das bombas, do ruído das explosões. Quando o teatro é um cenário de atrocidades infindáveis, uma zona escura de razão e justiça, quando os atores são sempre desprovidos de um texto coerente e claro, quando o espetáculo deprime é difícil manter a serenidade e o senso crítico ativos.
Na guerra é assim. Nessa guerra é assim.
Não está mais claro quem está agredindo, quem está defendendo; quem tem a razão ( alguém deve, necessariamente tê-la? ), quem está do lado certo.
Um texto publicado no Haaretz faz pensar nessas coisas. É de autoria de Ze´ev Maoz, um professor de Ciência Política na Universidade de Tel Aviv, e chama-se Morality is not on our side (http://www.haaretz.com/hasen/spages/742257.html ).
Ele desfaz a ilusão ( pra mim, pelo menos... ) de que Israel apenas agiu em auto-defesa neste episódio. Não que ele dê a razão para o Hezbollah, ou para o Líbano que na verdade está apenas obliquamente envolvido no conflito ( apesar de suportar as maiores baixas e prejuízos ), pois embora não esteja oficialmente em guerra com Israel, e sim o Hezbollah, este último faz parte do governo libanês.
Listando uma série de infrações israelenses através do tempo ( remontando até as invasões de 1982 ) Maoz traça um cenário um pouco mais complexo do que o comumente desenhado na imprensa para destacar que, como diz o título do artigo, a moral não está do lado do estado de Israel.
Vale bastante a pena ler o artigo.
Aliás, têm sido publicados muitos textos de qualidade sobre este conflito.
Pelo menos tem servido esta guerra para estimular a análise crítica da situação no Oriente Médio.