Cristo segundo a tolice
Nesta madrugada o SBT reprisou ‘Laranja Mecânica’, clássico do Stanley Kubrick.
Iria passar às 02h30; não sei se foi exibido nesse horário, mesmo, pois acabei não assistindo.
Preferi acabar de ler um livro, que vinha lendo nesta última semana, ou duas, não sei.
Não sei se fiz a melhor escolha.
Eu nunca havia lido nada do Saramago.
Na verdade, conhecia apenas um conto dele, chamado ‘A ilha perdida’, se não me falha a memória ( e não vou procurar o livrinho em meio às caixas de livros que ainda estão aqui ao meu lado, no chão, à espera de estantes desde a mudança, que já foi há um ano ).
O livro que eu estava lendo, e que acabei nessa madrugada enquanto passava a reprise do Kubrick, é ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, que um amigo me emprestou.
Confesso que estava gostando, no começo. O Saramago evidentemente tem um grande talento literário, sabe como conduzir uma história, tem lá suas sacadas de estilo, com os fluxos de consciência que se misturam com diálogos sem parágrafos e travessões, faz com que as cenas transcorram com uma fluidez bem interessante e tem um certo charme na escrita.
Mas, sinceramente? E só.
Até que a idéia de humanizar, por assim dizer, a figura de Jesus Cristo é bastante interessante, ainda que não muito original.
O fato de ele devotar uns 80 % do livro para a vida pré-revelação do Cristo é interessante e poderia ter dado frutos mais suculentos do que as previsíveis especulações sobre o relacionamento de Jesus com Maria Madalena e as aparições mais alentadas dos personagens familiares de Jesus, como seus irmãos.
Mas a sensação que fica é que Saramago procura simplesmente aquele efeito boboca de choque, de atrevimento, de transgressão sem conseqüências.
Apresentar Jesus como aprendiz de pastor do rebanho do demônio, de fazer do pior-de-todos o anjo da anunciação, de equiparar as vontades de deus e do tinhoso como co-autoras e beneficiárias da pregação e da igreja, enfim, usar artifícios como alterar a frase final do Cristo na cruz para ‘Homens, perdoe-o, pois Ele não sabe o que faz’, tudo isso soa muito fraco e gratuito, muito ralo.
Aquelas duas ou três páginas que enumeram os mártires da igreja com seus respectivos calvários, então.
A que vem isso?
Não sou católico e nem sigo nenhuma outra religião, mas não sei se esse tipo de obra desperta algo mais que o riso e o enfado em um crente.
Sei lá, talvez Saramago poderia escrever sobre crenças com as quais ele tem mais intimidade.
Talvez um ‘A Grande Marcha Segundo Mao’, ou ‘El Paredón Segundo Fidel’.
Como Maoísta renitente e comunista feliz com as atrocidades cometidas em nome de uma idéia, ele teria aí uma bela fonte para um trabalho mais consistente.
Afinal, depois daquele ‘até aqui, cheguei..’ ele teria todas as desculpas para fazê-lo sem ser queimado na fogueira da esquerda mundial.
Ah! Se é pra ler sobre a vida do humano Jesus Cristo, vale mais a pena um outro livro, do Anthony Burgess ( que também está ali, nas caixas...), que é o autor do livro que deu origem ao clássico do Kubrick reprisado na madrugada enquanto eu terminava o valoroso Saramago.
O livro se chama “O Homem de Nazaré” .
Vale bem mais a pena.
Iria passar às 02h30; não sei se foi exibido nesse horário, mesmo, pois acabei não assistindo.
Preferi acabar de ler um livro, que vinha lendo nesta última semana, ou duas, não sei.
Não sei se fiz a melhor escolha.
Eu nunca havia lido nada do Saramago.
Na verdade, conhecia apenas um conto dele, chamado ‘A ilha perdida’, se não me falha a memória ( e não vou procurar o livrinho em meio às caixas de livros que ainda estão aqui ao meu lado, no chão, à espera de estantes desde a mudança, que já foi há um ano ).
O livro que eu estava lendo, e que acabei nessa madrugada enquanto passava a reprise do Kubrick, é ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, que um amigo me emprestou.
Confesso que estava gostando, no começo. O Saramago evidentemente tem um grande talento literário, sabe como conduzir uma história, tem lá suas sacadas de estilo, com os fluxos de consciência que se misturam com diálogos sem parágrafos e travessões, faz com que as cenas transcorram com uma fluidez bem interessante e tem um certo charme na escrita.
Mas, sinceramente? E só.
Até que a idéia de humanizar, por assim dizer, a figura de Jesus Cristo é bastante interessante, ainda que não muito original.
O fato de ele devotar uns 80 % do livro para a vida pré-revelação do Cristo é interessante e poderia ter dado frutos mais suculentos do que as previsíveis especulações sobre o relacionamento de Jesus com Maria Madalena e as aparições mais alentadas dos personagens familiares de Jesus, como seus irmãos.
Mas a sensação que fica é que Saramago procura simplesmente aquele efeito boboca de choque, de atrevimento, de transgressão sem conseqüências.
Apresentar Jesus como aprendiz de pastor do rebanho do demônio, de fazer do pior-de-todos o anjo da anunciação, de equiparar as vontades de deus e do tinhoso como co-autoras e beneficiárias da pregação e da igreja, enfim, usar artifícios como alterar a frase final do Cristo na cruz para ‘Homens, perdoe-o, pois Ele não sabe o que faz’, tudo isso soa muito fraco e gratuito, muito ralo.
Aquelas duas ou três páginas que enumeram os mártires da igreja com seus respectivos calvários, então.
A que vem isso?
Não sou católico e nem sigo nenhuma outra religião, mas não sei se esse tipo de obra desperta algo mais que o riso e o enfado em um crente.
Sei lá, talvez Saramago poderia escrever sobre crenças com as quais ele tem mais intimidade.
Talvez um ‘A Grande Marcha Segundo Mao’, ou ‘El Paredón Segundo Fidel’.
Como Maoísta renitente e comunista feliz com as atrocidades cometidas em nome de uma idéia, ele teria aí uma bela fonte para um trabalho mais consistente.
Afinal, depois daquele ‘até aqui, cheguei..’ ele teria todas as desculpas para fazê-lo sem ser queimado na fogueira da esquerda mundial.
Ah! Se é pra ler sobre a vida do humano Jesus Cristo, vale mais a pena um outro livro, do Anthony Burgess ( que também está ali, nas caixas...), que é o autor do livro que deu origem ao clássico do Kubrick reprisado na madrugada enquanto eu terminava o valoroso Saramago.
O livro se chama “O Homem de Nazaré” .
Vale bem mais a pena.
2 Comments:
Assisti ao filme de Kubrick. Se estivesse com o mesmo livro que você está teria feito a mesma coisa, e nao teria me arrependido.
Ah, Patrick! Sou mais o Kubrick.
Esse livro do Saramago é fraquinho, fraquinho...
Postar um comentário
<< Home